Segundo Maria Montessori “We alone imagine, not they; they merely believe” (Nós [adultos] apenas imaginamos, elas [as crianças] não; elas simplesmente acreditam). A verdade é que a credulidade é uma característica da mente das crianças, e os adultos ao darem-lhes informações incorretas estão a maltratar de sua confiança. Montessori reforçava, inclusive, a ideia de que as fantasias eram um obstáculo ao desenvolvimento da independência da criança.
É comum em adultos ouvirmos histórias de desapontamento sobre quando descobriram que afinal o Pai Natal não existia (eu incluída).
Isto é especialmente importante nas crianças pequenas uma vez que não conseguem distinguir a fantasia da realidade. Para além disso, as crianças confiam em nós, pais, para as proteger, cuidar e amar. Se quando têm um pesadelo, esperamos que confiem em nós quando dizemos que foi só um sonho e que o lobo mau (por exemplo) não existe, não devemos enganá-las noutras situações. Para elas é difícil compreender porque devem confiar nos pais umas vezes e outras não. A consistência é a chave e os adultos precisam de ser realistas com as crianças acerca do que é imaginação e do que é real.
Na minha perspetiva não é fácil optarmos por não contar. Para além de sermos bombardeados com a presença do Pai Natal, muitos pais e avós olham para o Pai Natal como sendo a magia do Natal, mas temos de ser sinceros, será esta fantasia para as crianças ou para nós? Se optássemos por não contar a história do Pai Natal, será que as crianças viveriam menos o Natal? Ou o Natal perderia a sua magia? Para mim a resposta é não. O Natal é estar em família e com os amigos, é fazer atividades juntos, abrir os presentes especiais que damos uns aos outros, porque gostamos de os fazer felizes.
Há ainda outra questão que me preocupa. Quando as coisas surgem como por magia, como é o caso dos presentes que o Pai Natal nos traz, acabamos por apelar ao consumismo, porque é fácil receber presentes, afinal não têm custo. Tudo isto se complica ainda mais quando vamos mais longe na história e o acabamos por contar à criança que o senhor das barbas brancas só traz presentes se ela se comportar bem. Como se de outra forma não fosse merecedora do presente. Imaginam o que isto pode fazer por uma criança?
Apesar de não concordar que a fantasia seja imposta às crianças mais pequenas pelos adultos, Montessori valorizava imenso a imaginação, na realidade, a imaginação é a base curricular em Montessori. No entanto, Montessori defendia que a verdade sustentava todos os grandes atos da imaginação e que, portanto, as crianças mais pequenas deviam ser informadas da verdade.
Este ano, mais importante que o Pai Natal, serão as atividades que vamos fazer em conjunto. Desde fazer a árvore de Natal, aos cozinhados, passando pelo embrulho dos presentes ou o calendário do advento. Óbvio que a ideia não vai ser esconder o Pai Natal ou fazer de conta que ele não existe. Ele é parte integrante da nossa cultura, mas podemos contar às crianças a sua verdadeira origem e acima de tudo, respeitar a decisão das outras famílias.
Quando as pequenas perguntarem, esta será a história que lhes vou contar:
“A long time ago, in the past, there was a wise and pious man named Saint Nicholas who used to secretly leave gifts for poor people on their doorsteps. When they woke in the morning they would find food to eat and warm clothes to wear. He was a simple and humble man and he didn’t want anyone to know it was him as he didn’t want anything in return except good rewards from God.
Then over the years as time went by people wanted to remember him and his good example so they gave gifts to children and they would say the gifts were from St’ Nicholas. Over time, practices change and after many years “St’ Nicholas” turned into ‘Santa Claus’ and today people who celebrate Christmas like to be a ‘Santa Claus’ for their kids!
So Santa is not one real person. It’s people who pretend to be Santa and give gifts to their children, in the spirit of St’ Nicholas“.
(História retirada deste artigo do blog Mamanushka)