Para a maior parte das pessoas, as áreas mais importantes seriam claramente língua e matemáticas, mas Maria Montessori diz-nos que Vida Prática é o verdadeiro coração do ambiente Montessori, sabe porquê?
As crianças observam a vida que os rodeia, como se levanta a mesa, lavam os pratos ou janelas, como nos servimos água, como nos vestimos, como cuidamos os animais domésticos e plantas e como nos relacionamos.
É através de viver rodeado de atividades simples, curtas e concretas que se repetem diariamente que a criança gradualmente começa a atribuir-lhes um significado, familiarizando-se com elas, compreendendo-as começando assim a construir a base da sua inteligência.
Maria Montessori observou a atividade espontânea das crianças, parecia que um guia interno os impulsionava à ação. Seguindo uma automotivação, algo misterioso que vem de dentro, mostrando uma enorme confiança em si mesmos enquanto trabalhavam com estes materiais, aumentando a sua autoestima cada vez que eram bem-sucedidos ou de aí surgia uma aprendizagem.
Por acaso o seu filho não quis já varrer o chão? Lavar a loiça? Estender a roupa? Pôr a mesa?
Mas a maioria das vezes a vassoura é muito grande e insistimos para que desista da ideia, quebrando a sua firme decisão de querer fazê-lo. O ambiente não está preparado para o seu tamanho e para a destreza das suas mãos, daí resulta de suma importância um ambiente preparado.
Há muitas razões pelas quais a área de Vida Prática é o coração de um ambiente Montessori.
Maria Montessori desenhou esta área do ambiente com materiais que permitiam o fluir da atividade da criança seguindo o seu interesse inato por cuidar do ambiente interior e exterior, pela higiene e cuidado pessoal e converteu-o no centro de todas as outras áreas. Depois de muito observar, apercebeu-se que é através destas atividades da vida diária que a criança constrói a sua mente, e isto é assim pelas seguintes razões:
1. Mune a criança de competências práticas e conhecimento significativo, o que leva a uma maior autonomia e consequente auto-estima, tão fundamentais nesta fase de desenvolvimento e que lhe serão muito úteis em etapas posteriores de crescimento como será a adolescência. Está já demonstrada a relação entre a atividade dos músculos com as conexões cerebrais, através das quais o homem constrói a sua mente. Inclusivamente estudo da Universidade de Harvard referem-se ao uso da “mão como veículo da inteligência”. Esta área favorece a aquisição de conhecimentos válidos para o seu dia-a-dia, habilidades e destrezas com as quais descobre e explora por si mesmo o ambiente em que cresce, e isto é fundamental para a sua autoimagem, autoestima, confiança e segurança.
2. Com estas atividades foca a sua concentração, permitindo uma maior conexão entre o corpo e a mente, fundamental para o domínio da sua vontade e com isto alcançar uma autodisciplina, algo que se constrói desde dentro e não imposta pelos outros. A educação Montessori oferece atividades que desenvolvem e fortalecem a vontade, sem obstáculos, dando mais oportunidade e liberdade para o desenvolvimento, o que é comumente conhecido como “aprendizagem expansiva”. Este controlo do corpo através de manifestações da vontade, ajuda a ter uma consciência crítica e saber o que realmente quer da vida.
3. São atividades que fomentam a repetição, são atividades procedimentais nas quais se encontra submerso num fluir, flow ou estado de mindfullness, relacionado com sensações psicológicas de bem-estar.
Há muitas razões pelas quais a vida prática é o coração do ambiente Montessori.
Por acaso não voa o tempo quando fazes a tua atividade preferida?
Num ambiente Montessori as crianças encontram rapidamente o que Ken Robinson denomina “o Elemento”, uma preparação para potenciar as suas aptidões, paixões e atitudes que vão permitir um crescimento pessoal e autorrealização.
As crianças começam a interessar-se pelos materiais de Vida Prática que encontram no ambiente pela familiaridade com o que conhecem na sua realidade familiar, aproximando estes dois mundos.
Maria Montessori desenhou estes materiais seguindo os interesses naturais da criança com o objetivo que as crianças fossem bem-sucedidas, por si próprias, na realização das tarefas que lhe são familiares. Quando a criança descobre que todos estes materiais, proporcionais ao seu tamanho, bonitos, iguais aos dos “adultos” estão à sua disposição, sente-se imensamente satisfeito, conseguindo ao trabalhar com cada material focar a sua atenção, através do movimento, estabelecendo assim uma conexão entre corpo e mente, favorecendo as conexões cerebrais que lhe vão permitir construir a sua arquitetura cerebral. Por outro lado o facto de aprender e conseguir realizar as tarefas com autonomia e de forma independente, vai permitir que cresça neste uma profunda sensação de confiança e sente-se capaz de controlar a sua vontade, e os seus desejos orientando-os a atividades profícuas nas quais se encontra submerso, num trabalho que não causa fadiga, mas uma grande sensação de bem-estar.
What else?! 🙂
Joana Rebelo