A criança nasce com o potencial para a criatividade e tudo será possível graças às experiências que a criança vai obter do seu contexto.
“…a parte mais importante da vida no é a que corresponde aos estudos universitários, mas ao primeiro período, que se estende desde o nacimento até aos seis anos, porque é neste período que se forma a inteligência. … Sem dúvida que o período infantil é um período de criação; no princípio não existe nada, e ao fim de um ano aproximadamente, a criança conhece tudo”. (Montessori, 1986, p. 39)
Na primeira fase da vida a criança adquire e desenvolve competências relacionadas com o movimento, a partir dos 2 anos refina o movimento e é de grande importância a educação dos sentidos para construir a sua mente matemática.
Kay Baker menciona a teoria de Bjorklund, que refere que o uso da linguagem é o princípio de uma mudança revolucionária na natureza humana e que em Montessori coincide com a mudança da mente absorvente inconsciente à consciente. (Baker, 1991, p.85).
Como é que um ambiente preparado Montessori, ajuda no desenvolvimento da sua mente matemática?
A partir dos 2 ½ anos, as experiências que a criança tem, já não são tão percetuais, são mais sensoriais, e o material sensorial ajuda a isolar qualidades, são assim abstrações materializadas. Desta forma, em cada área do ambiente a criança vai adquirir competências que lhe vão permitir desenvolver esta mente matemática.
Vida Prática:
A Vida Prática dá à criança uma análise lógica nas apresentações, com passos lógicos, precisos e ordenados. Permite à criança usar as mãos com exatidão para conseguir alcançar um objetivo. Para tal faz estimativas, calcula distâncias, quantidades, ordena e organiza. É aqui que refina movimentos, pela repetição e capacidade de atenção e concentração, interessada em viver experiências que a levem a solucionar um problema. Permite-lhe trabalhar de forma independente, pois o material é auto corretivo o que facilita a perceção do que poderá melhorar para ser bem-sucedida, o que a faz sentir segura e confiante sentindo que é capaz de executar as tarefas por si mesma. Este movimento coordenado é assim fundamental para a educação dos sentidos.
“… a criança precisa não só de um objeto interessante, mas também de conhecer a maneira exata de executar os movimentos quando lida com ele. O que interessa e mantém a criança focada no trabalho é a precisão; Isso indica que, ao manusear objetos tem um propósito inconsciente, a necessidade e o instinto de coordenar seus próprios movimentos. Outro facto que vale a pena notar é que a criança ao trabalhar com interesse, repete e repete o mesmo exercício muitas vezes”. (Montessori, 1986, p. 226-227)
Sensorial:
Este material permite a educação dos sentidos. O material permite obter perceções precisas e exatas com os exercícios de formas e figuras que lhe ajudam a adquirir a habilidade de classificar e comunicar as suas experiências com o mundo.
Torna-se um observador, com uma apreciação geral do mundo, satisfazendo a sua tendência natural à exatidão e às necessidades da sua mente matemática. Assim o importante são as qualidades das perceções sensoriais, agora com exploração e manipulação dos materiais de sensorial e a linguagem associada, a criança separa e classifica cores, sons, tamanhos, texturas, temperaturas, formas… Aprende a expressar experiências qualitativas que serão uma ajuda para a compreensão dos conceitos matemáticos.
Estes materiais atendem à necessidade cognitiva das crianças, que primeiro, aprendem conceitos de forma concreta porque ainda não desenvolveram habilidades de pensamento abstrato. Enquanto os adultos podem ler ou ouvir uma explicação de como algo funciona, uma criança tem que realizar concretamente para poder desenvolver uma verdadeira compreensão.
O material de sensorial personifica as abstrações e quando se acrescenta a linguagem, é quando a criança vai dar significado a estes conceitos abstratos. Pode sentir algo áspero ou liso, algo quente, morno, gelado, frio, pesado e leve, mas é quando a estes conceitos abstratos lhes damos nome estes ganham significado e podem ser transpostos para outras situações do dia-a-dia.
“Os sentidos são pontos de contacto entre o ambiente e a mente”. (Montessori, 1986, p. 229)
Linguagem:
Nesta área a criança aprende a expressar as suas experiências qualitativas, que lhe dão a ideia de quantidades e magnitude (aumentativos e diminutivos). O enriquecimento de vocabulário ajuda a criança a expressar relações espácio-temporais, quantidades, que será uma ajuda para a compreensão e abstração das matemáticas.
As letras e números de lixa, encaixes metálicos, ajudam a desenhar letras e números. Ao estudar a função das palavras a crianças descobre repetições e padrões, construindo uma mente lógica que ajudará a estimular as conexões neuronais. Em extensões de linguagem continuam a explorar o seu idioma, expondo-os indiretamente a elementos matemáticos que implicam a compreensão do funcionamento do mundo, através de geografia (formações geográficas, mapas, culturas), ciências (experiências), arte (estilos, épocas, formas de expressão), história etc.
A linguagem permite à criança aceder a um “armazém” de ideias com expressões já adquiridas e o movimento permite explorar o seu ambiente de modo a aceder a essas ideias.
Assim é fundamental percebe a importância de um ambiente preparado para o desenvolvimento da inteligência da criança, e o que podemos fazer é adequar este ambiente às suas necessidades, já que a criança aprende por si própria.
De que mais desenvolvimento necessita a mente humana?
A mente humana inicia-se desenvolve-se desde a perceção até à abstração: nomeia perceções e cria relações entre as abstrações (associadas a estas perceções) A criança tem experiências sensoriais, organiza estas experiências e acrescenta linguagem ao material sensorial, então adquire uma consciência que lhe permite uma abstração através da linguagem.
Assim, ao educar os sentidos a crianças tornam-se conscientes da sua mente matemática, apercebendo-se das relações que existem entre os diferentes objetos. É o nascimento consciente da mente matemática. Iniciando com o concreto, sensorial e percetível até ao abstrato, para concluir relacionando abstrações que é do se trata nas matemáticas.
Para além disso a matemática é uma linguagem em si mesma. Neste momento a mente da criança torna-se consciente das relações, já não é absorvente, mas entra numa mente raciocinadora, capaz de fazer deduções.
A mente humana para desenvolver-se necessita da capacidade de inventar e criar e por isso é importante o desenvolvimento da imaginação e o raciocínio.
“As abstrações são limitadas, enquanto as coisas imaginadas podem estender-se até ao infinito. Os limites são tão mais válidos quanto mais exatos, criam no campo mental uma espécie de órgão de precisão necessário para nos guiar no espaço como um relógio, necessário para guiar-nos no tempo”. (Montessori, 1986, p. 232).
A imaginação é fundamental na mente (matemática), ajuda ao raciocínio, à dedução (do concreto ao geral), que o ser humano necessita pelo facto de estar limitado no tempo e espaço, não consegue estar em contacto com tudo o tempo todo.
Este é o poder da mente matemática, que é a parte da mente que se constrói através da exatidão.
Permitamos à criança viver e mover-se com objetos, experiências e atividades reais para que desenvolva uma poderosa imaginação que usará para criar, desenvolvendo a sua própria inteligência. Uma inteligência criativa, com uma mente capaz de adquirir a capacidade de desenvolver coisas a partir da experiência.
A definição de razão é a capacidade da mente humana estabelecer relações entre ideias o conceitos de modo a obter conclusões e formar juízos. Estas ideias e conceitos relacionados, partem de acontecimentos conhecidos ou assumidos. O desenvolvimento da razão baseia-se assim em experiências reais, logo o desenvolvimento da razão é a capacidade de pensar lógica e coerentemente e ajudará no processo criativo.
María Montessori, sugere que a mente raciocinadora ou mente matemática, é o início da mente criativa. Kay Baker conclui assim: “Uma vez que adquire um certo nível de abstração, a criança usará a sua imaginação, experiência, o trabalho de matemáticas com base sensorial e racional e alcançará um pensamento abstrato de alto nível”. (Baker, 2004, p.15).
Em modo de conclusão, em Montessori, através da exploração do material, procura-se que a criança relacione conceitos, obtenha conclusões, realize conexões com base na sua experiência, por si mesma. Ajudando a que a sua mente amadureça até se converter numa mente raciocinadora, a mente matemática, que vai ajudar no processo de desenvolvimento da inteligência criativa e por sua vez ao desenvolvimento da sua personalidade.
“Tudo é fácil se o conhecimento lançou raízes na mente absorvente. […]
Os objetos matemáticos no se encontram dispersos no ambiente como as árvores, as flores ou os animais. Por isso aos materiais sensoriais chamamos abstrações materializadas, ou material matemático básico”. (Montessori, 1986, p.234)
Bibliografía:
- Baker, Kay. “Developing the mathematical mind”. The NAMTA journal – Vol. 17 Nº 1 – Fall-Winter 1991: 82-93
- Baker, Kay. “Mathematics and the human mind”. AMI/USA NEWS, Vol. XVII. Nº4. Diciembre 2004: 13-15.
- Montessori, María. La mente absorbente. Ed. Diana. Méjico, 1986