Se preferirmos dizer de outra forma, a mente absorvente alimenta uma estrutura que se expande e os períodos sensíveis proporcionam os materiais adequados para a construção de competências específicas. Mas como é que estas competências específicas são integradas, ampliadas e complementadas de forma a dar à criança conhecimento e compreensão, que lhe permita conhecer o mundo?
Por volta dos 30/36 meses, a mente absorvente torna-se cada vez mais consciente. A criança procura atividades com um propósito e demonstra curiosidade e interesse no mundo que a rodeia. Por exemplo, é normal ver uma criança que começa a querer demonstrar como posiciona os blocos numa fila, a querer ver o que estamos a fazer na cozinha, a escutar que sons surgem da rua, a descobrir para onde vai a água do banho quando escoa pelo ralo. Esta idade é um marco na aventura da aprendizagem.
Na perspetiva de Montessori, o ato de aprender não implica a aquisição de algo novo. Simplesmente por estar atento ao mundo, a mente absorvente está constantemente a adquirir a substância daquilo que vai ser aprendido pela criança. A aprendizagem por si só é o ato de juntar e conectar aquisições anteriores de forma a que estas sejam agrupadas de acordo com a sua utilidade ou o seu significado, que, posteriormente, vão ter um lugar num sistema mais alargado de utilidades ou significados. O que advém dessa aprendizagem torna-se, então, num pedaço de conhecimento que pode ser combinado com outros, num ato de aprendizagem contínuo.
A aprendizagem ocorre então através de três estádios:
1 – Absorção
Através da mente absorvente, a criança absorve uma impressão completa dos vários componentes isolados que se juntam posteriormente. Isto pode ocorrer natural ou intencionalmente, através de atividades específicas e pensadas para o efeito. A criança explora e compreende o mundo através do movimento, isto é sempre um evento participatório e é, por isso, que na pedagogia Montessori a aprendizagem é ativa, invés de uma receção passiva. No entanto, e de forma a ocorrer uma absorção completa, é necessário que haja concentração.
Neste estádio inicial, o que quer que esteja a ser absorvido, porque está a ser processado, começa a ficar associado no subconsciente da criança. Consequentemente, a criança sente-se motivada para fortalecer e completar estas associações.
2 – Repetição
O segundo estádio de aprendizagem consiste em, repetidamente, desvendar conexões dos momentos absorvidos que, para a criança e conforme vimos, envolve atividade física, criando pontes com as aquisições do primeiro estádio. Através da repetição, a criança explora e estabelece diferentes componentes que se encaixam, de forma a criar conexões. Por exemplo, se pensarmos no som verbal e na letra do alfabeto, a criança tem que perceber claramente o que está a ser conectado e isto só é possível através de uma aprendizagem solidamente assente na repetição dos momentos previamente absorvidos. No final, o intuito é unificar conceitos.
3 – Aplicação prática
O terceiro estádio de aprendizagem é a aplicação consciente dos conceitos às tarefas e situações que dão sentido ao mundo da criança. Isto poderá significar, por exemplo, utilizar a nova combinação de som e letra para escrever uma palavra numa história que a criança está a fazer. Alternativamente, a criança poderá também aplicar o novo conceito na tentativa de o ensinar a outra pessoa. Seja como for que isto seja feito, o objetivo deste último estádio é dar à criança significado ao conceito, dando-lhe um propósito para o seu dia a dia, e potenciando a relação com outros conceitos que ela tenha aprendido.
Assim, os três estádios de aprendizagem começam a operar: as novas capacidades de concentração da criança suportam o primeiro estádio; a repetição e a procura pelo controlo ajudam a potenciar o segundo estádio; e a atividade com propósito, guiada pela vontade, torna-se a base do terceiro estádio. Em conjunto, permitem à criança gerar uma aprendizagem por conexão.
Assim, a aprendizagem é essencialmente conectar aquilo que é absorvido e repetido, dando-lhe aplicabilidade prática. Só desta forma é possível integrar as habilidades da criança, permitindo-lhes gerir a relação com o mundo.
Joana Magalhães