Mesmo para quem está a iniciar agora o seu percurso por Montessori, certamente que já se apercebeu que existem 4 grandes áreas de atividades:
- Atividades de vida prática – que permitem desenvolver competências pessoais e sociais básicas e que são usadas no dia a dia, como vestir-se sozinho, limpar ou ser educado;
- Atividades sensoriais – que servem para alargar e aprofundar o sentido de perceção da criança do mundo;
- Atividades de língua – que iniciam a criança na leitura e na escrita;
- Atividades das matemáticas – que introduzem os números, a contagem e a aritmética.
Anteriormente, existia ainda uma quinta área de atividades, as atividades de cultura, que envolviam a física, a história, a geografia, a antropologia e a biologia. Estas atividades não desapareceram, foram apenas incluídas nas áreas anteriores.
A razão principal pela qual apresentamos atividades Montessori à criança é porque queremos proporcionar-lhes experiências adequadas capazes de satisfazer as suas necessidades de desenvolvimento. Por exemplo, é comum vermos crianças dos 14 aos 16 meses gostarem especialmente de carregar objetos pesados ou de subir escadas e trepar móveis. É o período de máximo esforço (podem pesquisar por maximum effort period). Providenciar-lhes atividades, como carregar um regador com água, por exemplo, permite-lhes satisfazer esta necessidade durante este período e pode ser uma excelente forma de promover o seu desenvolvimento e autonomia.
Pessoalmente, adoro preparar atividades Montessori ou de inspiração Montessori para as minhas filhas. Vão existindo cada vez mais blogs com tutoriais e sugestões de atividades, que podem fazer as delícias de miúdos e graúdos (sim, porque observá-los também nos proporciona momentos mágicos). No entanto, tenho sentido que falta alguma orientação na preparação e apresentação dessas atividades. Heis algumas dicas daquilo que tenho aprendido ao longo desta jornada:
- A observação é a primeira e, provavelmente, a mais importante. Observarmos a criança permite-nos estar preparados para apresentarmos as atividades de acordo com os períodos sensíveis da criança. Apresentar uma atividade cedo demais, quando a criança não está preparada, ou tarde demais, quando a criança já domina a competência, leva ao desinteresse da criança pelo material apresentado. Óbvio que apesar de ser a mais importante é também muitas vezes a mais difícil, porque é aquela que requer mais treino da nossa parte, e quando digo treino, é treino de observação. Vamos imaginar que o vosso filho de 24 meses resiste a que lhe apertem o casaco, mas é extremamente competente nas atividades de motricidade fina, por exemplo, cortar com a tesoura. Isto poderá querer dizer que o vosso filho está preparado para que lhe apresentem atividades de vida prática que lhe deem experiência e prática no uso de diferentes formas de apertar roupas (as famosas molduras de vida prática).
- Planear antes de apresentar, para que a apresentação seja fluída e que a criança se concentre naquilo que lhe estamos a apresentar.
- Ter um conjunto de atividades previamente preparadas para quando sentimos que chegou o momento de as apresentar.
- Escolher materiais que sabemos que são do interesse da criança. Devemos seguir o interesse da criança, assim, se o vosso filho adora animais, faz sentido que lhe apresentemos atividades que permitam satisfazer essa necessidade. Podemos promover a aquisição da linguagem seguindo este interesse, por exemplo.
- Escolher locais tranquilos para a apresentação das atividades, onde não existam grandes elementos de distração.
- Usar um tapete ou uma mesa (à altura da criança). Permite-nos delinear o espaço de trabalho e dá estrutura e ordem à criança.
- Os materiais apresentados são transportados e guardados em recipientes e tabuleiros, para que seja mais fácil para a criança manuseá-los, dando-lhe autonomia e ordem.
- Para cada atividade, envolver a criança em ciclos completos, isto é, ir buscar o tapete, abrir o tapete, colocar os materiais no tapete, trabalhar com os materiais, arrumar os materiais e dobrar e colocar o tapete no seu sítio.
- Quando vamos apresentar uma atividade devemos posicionar-nos ao lado da criança de acordo com a nossa lateralidade, isto é, se formos destros, devemos colocar-nos do lado direito da criança e se formos esquerdinos do lado esquerdo (e não de acordo com a lateralidade da criança). O objetivo é que a criança consiga ver todos os nossos movimentos e que não tenha a visão bloqueada.
- Os materiais são apresentados e posicionados da esquerda para a direita. Reparem que é assim que lemos e escrevemos. Ao fazê-lo desta forma já estamos a organizar a estrutura mental da criança.
- Antes de iniciarmos a apresentação da atividade, devemos assegurar à criança que, a seguir, terá oportunidade de a fazer. Assim, estamos a ajudar a criança a controlar a sua ansiedade, porque sabe que a seguir será a sua vez, e estamos a captar a sua atenção.
- A criança deve observar aquilo que fazemos, não devemos descrever aquilo que estamos a fazer. Ao fazê-lo a criança tem dificuldade em se concentrar nos dois estímulos ao mesmo tempo, visual e auditivo, daí optarmos só por um.
- Assim, que percebermos que a criança está envolvida na atividade, devemos afastar-nos e deixar que possa trabalhar com os materiais de forma autónoma.
- Se percebermos que a criança está a ter dificuldade em executar uma determinada atividade, podemos perguntar se precisa de ajuda. Devemos, no entanto, esperar que diga que sim para a ajudar e dar pequenas ajudas apenas, deixando-a fazer sozinha o máximo possível.
Espero que estas dicas possam ser úteis na preparação das vossas atividades e que vos possam inspirar tanto quanto a mim 😊
Joana Magalhães