Empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, conseguir ver as coisas sob outra perspectiva, com maior sensibilidade em relação ao próximo. Alimenta a conexão e não a dispersão (diferente de simpatia).
Theresa Wiseman, investigadora na área de enfermagem, fala-nos de 4 qualidades da empatia:
- Capacidade de reconhecer a perspectiva do outro como verdadeiro.
- Não julgar.
- Reconhecer emoções nos outros.
- Comunicar essas emoções.
Sentir com o outro, estabelecer uma conexão com o outro, que parte do nosso interior
“A criança é um embrião espiritual que precisa de um ambiente especial. Da mesma forma que o embrião físico precisa do ventre de sua mãe, para crescer cercado por tudo o que é necessário, o embrião espiritual precisa ser protegido por um ambiente externo que seja quente, amoroso e rico em nutrientes, onde tudo está disposto a recebê-lo e não a prejudicá-lo. “(O segredo da infância).
E como é que nós, Educadores, podemos cultivar empatia nas crianças?
1.Sendo o exemplo ou modelo;
Quando uma criança entra numa sala Montessori, será recebida na porta com um abraço ou com um caloroso e acolhedor “bom dia” com um sorriso do Guia (educador). Este é um dos atos mais importantes do dia. Olhamos nos olhos, chamamos as crianças pelos seus nomes, compartilhamos expressões de alegria, ouvimos as notícias de casa e certificamo-nos de que todas as crianças começam o dia com a sensação de que são membros importantes de sua comunidade.
Quando reconhecemos o seu sofrimento fisico e emocional, respeitamos a individualidade da sua personalidade, e temos interesse genuíno sobre a criança. No momento de preparar as atividades, pensar não simplesmente no que gostaríamos que estas fizessem, mas atendendo Às características da crianças, os seus interesses, as seus períodos sensíveis, preparar atividade e apresentar mediante os que estas gostariam de fazer, explorar, aprender.
As crianças também aprendem empatia quando observam a nossa relação com os outros. Como tratamos as restantes crianças e adultos, como tratamos pessoas fora da escola, se cumprimentamos o motorista da empresa de transportes, ou fazemos um comentário simpático à cozinheira, agradecemos o trabalho ao jardineiro, questionamos quando alguém nos parece mais triste ou preocupado, quando comentamos uma notícia de algo que se passa no mundo, vamos alertando para situações mais próximas ou mais distantes.
No livro Altruísmo e empatia na vida quotidiana, o psicólogo Alfie Kohn escreve que os ambientes éticos e cuidadosos, promovem uma auto-imagem pró-social. “Todos nós aprendemos mais na interação pessoal, do que ouvir ou receber lições de um educador, é mais uma questão de bom senso.” A partir de suas observações e do desenvolvimento da atividade, a criança absorve a ordem, a beleza e o amor investidos no seu ambiente.
2.Criando oportunidades para que as crianças pratiquem empatia, questionando e incentivando à observação do outro;
As crianças nascem com uma inclinação natural para a empatia, mas é preciso incentivar, alguma orientação e prática. Quanto mais oportunidades tiverem de “treinar” a empatia, maior a probabilidade de que esta habilidade se transforme num reflexo natural.
Podemos ajudar as crianças perguntando-lhes ao longo do dia: “Como podes ajudar os amiguinhos hoje?” Ou “Sentes que alguém precisa da tua ajuda esta manhã/tarde?”.
Uma criança com menos de dois anos de idade pode descobrir que uma planta precisa de ser regada, uma prateleira precisa ser arrumada ou limpa ou um amigo que precisa de ajuda com um fecho ou botões. A criança começa o seu dia observando o ambiente em busca das necessidades que podem existir na sua pequena comunidade, assumindo que há muitas maneiras através das quais ela pode ajudar.
Com os mais crescidos, podemos levantar problemas éticos: “Devo convidar aquele amigo que está sozinho para brincar connosco, sabendo que outro dos meninos com quem estou a brincar não quer brincar com ele?”
Mostrar exemplos de situações de empatia: “A Ana perguntou à Inês, que veio pela primeira vez à escola se ela queria brincar? E a Inês aceitou com um enorme sorriso pois assim não brincava sozinha.”
3. Ajudando as crianças a desenvolver o auto-controlo e expressar os seus sentimentos;
Através das suas divergências e frustrações, as crianças aprendem a pensar com empatia e entender que as relações são recíprocas.
Os Guias (educadores) fazem perguntas simples, como: “O que aconteceu?”
Mas enfatizam a reflexão através de: “Como isso te faz sentir?” ou “Como achas que o teu amigo se sente neste momento?”
À medida que as crianças trabalham juntas para manter a beleza e a ordem, elas aprendem a considerar as limitações e sentimentos dos outros. Embora muitas vezes precisem e apreciem o apoio gentil do adulto, eles não esperam que o elogio ou recompensa pelo seu trabalho possa vir de seus pares, o que origina um prazer particular na sua experiência partilhada.
Lembro-me de uma situação deliciosa que aconteceu numa sala de 3-6 numa escola Montessori no Norte de Espanha.
Certa manhã, uma criança de 4 anos e tal, já perto dos 5, chega à escola com uma energia dispersa, irrequieta, claramente não estava bem consigo própria, sem perceber muito bem o que se passava começou a contagiar os outros com o seu mal-estar. Tentou destruir a construção de um amiguinho, gritou com outras duas companheiras, e a certa altura senta-se no chão a choramingar. A Guia já a tinha interpelado em diversos momentos, esta acalmava mas rapidamente voltava ao mesmo registo. A certa altura, uma pequenita de 3 anos, ao observar toda a agitação e sofrimento desta amiguita, vai até à mesa da paz (espaço que por vezes as escolas Montessori adotam, onde colocam livros sobre emoções, plantas, uma pedra para “dar a voz” a quem fala na resolução do conflito, entre vários outros objetos) e para espanto de todos, sem dizer uma palavra, pega na pedra “de dar a palavra” e entrega à amiguita… numa atitude simbólica do género de “tu precisas de ajuda pois não estás bem!”. A criança ao receber a pedra levanta-se, dá um abraço à mais pequena, agradece-lhe e vai até à mesa da paz!
As crianças entendem assim que todos são importantes e que as contribuições de todas as pessoas são valiosas. Agindo com os outros para melhorar os ambientes partilhados, onde cada criança constrói a sua confiança, se deleita na amizade e descobre a alegria de dar sem esperar recompensa.
“O que acreditamos ser verdadeiro sobre nós mesmos e os outros afeta a maneira como nos comportamos, o que, por sua vez, afeta nossas suposições sobre a natureza humana.” (Alife Kohn, O lado mais brilhante da natureza humana, altruísmo e empatia na vida cotidiana).
Boa semana e para quem está de férias… boas férias J
Joana Rebelo