A observação passou a ser um valioso aliado para tomar as minha decisões: observei a forma como as coisas estavam dispostas cá em casa, a escolha das cadeiras e das mesas para eles, a interação entre eles e o tempo que dispendiam com os brinquedos que tinham à disposição. Percebi quais os brinquedos que os meus filhos mais utilizavam, aqueles que estavam maioritariamente arrumados e a (pouca) dinâmica que existia quando se tratava de arrumá-los.
Mas será que precisamos de tantos brinquedos?
Recordo-me que durante o meu período de reflexão, comentei com uma amiga próxima o “dilema” que vivia e disse-me com toda a honestidade: “Eu também achei que tinhas imensos brinquedos em casa! Se me perguntas, acho que é uma excelente ideia que os selecciones!”.
Foi a motivação extra que precisava. No dia seguinte, expliquei aos meus dois filhos que iríamos arrumar alguns brinquedos, mas que antes disso, eles podiam escolher aqueles que mais gostavam e com os quais queriam brincar. Com ajuda deles arrumamos cerca de 70% dos brinquedos que tínhamos na sala. Senti-me imediatamente mais leve, senti o ambiente mais limpo e os meninos mais “focados” nos poucos (mas bons) brinquedos que tinham.
Agora que penso com mais objectividade, toda aquela imensidão de brinquedos estavam, na verdade, a deseducar mais do que educar: o ambiente estava confuso e com demasiados estímulos, Mesmo que eles quisessem ajudar a arrumar e a manter a sala em ordem, dado o volume de brinquedos e a falta de um método claro de organização, tornava-se humanamente impossível!
Quais foram então os meus objectivos com esta mudança?
- Criatividade e Imaginação
Com o facto de haver menos brinquedos à disposição, acredito que a criança vá exercitar mais a sua capacidade de criar e imaginar. Potenciamos mais momentos de descoberta dos brinquedos, das suas utilidades, dando mais asas à sua imaginação!
- Partilha
Com duas crianças com idades próximas em casa, a ideia é reduzir o número de brinquedos disponíveis para potenciar momentos de partilha em ambos, em que as crianças procuram interagir entre elas, comunicando e descobrindo uma dinâmica nova em conjunto.
- Independência
As crianças sentem que têm mais liberdade de criação, de movimento e logo, menos dependência do adulto. Quando lhes mostramos que existem regras básicas que têm de cumprir (de convivência, de bem cuidar dos brinquedos ou de organização) tudo o resto fica necessariamente dependente da sua escolha e da sua vontade.
- Menos stress
Este ponto foi, para mim, imediato. A leveza do espaço e a sua organização foram fundamentais para que, no geral, o ambiente em casa mudasse automaticamente: menos ruído, mais focus, mais brincadeiras em conjunto como correr, jogar às escondidas e mais interesse por tarefas do quotidiano: fazer a comida, pôr a mesa ou arrumar as compras do supermecado.
- Família mais feliz
O balanço tem sido muito positivo! Sinto que estamos mais unidos enquanto elementos de uma família porque aproveitamos todos os momentos para estarmos juntos, aprendendo uns com os outros, mesmo em tarefas do dia a dia que, há uns tempos atrás, era apenas eu ou o pai que fazíamos. Neste momento, somos como um grupo de trabalho onde cada um (à sua medida) contribui para a harmonia da casa, dando sugestões ou exprimindo as tarefas que mais gosta de fazer!
Rosana Fernandes